quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ônibus 434

Sábado à noite, Botafogo, Rio de Janeiro. Saio de casa para ir ao cinema depois de quase 3 semanas sem ver um filme! Já estava entrando em crise de abstinência e, por isso, antes de ir para o "Arraiar da Limite Verticar", fiz um pit stop no Arteplex para ver "Horas de Verão", do diretor francês Olivier Assayas.
Para ir até o cinema peguei, como de costume, o 434, que passa bem em frente à minha casa. Entrei no ônibus e, como a distância é curta, não me sentei e fui em direção à porta de saída, parando por lá. Um senhor que estava sentado mais atrás perguntou se eu não queria me sentar. Agradeci e respondi que não, pois já ia descer no próximo ponto. Logo em seguida, um homem, que já estava me olhando desde que passei pela roleta, se levantou e parou perto da porta (que ficava no meio do ônibus). Me olhou de cima a baixo com uma cara estranha. Foi aí que veio, para minha surpresa, a seguinte pergunta: "Você tá bem?". Não entendendo muito bem a razão daquilo, respondi que sim, estava muito bem. Mas ele foi além! Superou tudo o que eu já havia ouvido a meu respeito. Perguntou: "Você bebeu?". Ainda sem acreditar naquilo, disse que não tinha bebido nada, que estava bem. O homem não fez mais nenhuma pergunta, mas percebi que ele não acreditou muito nas respostas que recebeu. Ao descer do ônibus, reparei que ele continuou me olhando durante um tempo...
Mais tarde, já na Limite, contei o caso para algumas pessoas. Todos riram. Mas foi Felipe Assad, meu pequeno-grande amigo das pedras, que fez a observação mais interessante. Disse que meus movimentos estão tão bons que, em determinados momentos posso parecer, para um desconhecido, não uma pessoa com deficiência e sim alguém que já tomou umas e outras...

Acho que estou melhorando! O que será que vem depois do estágio "bêbado"?! Perguntinha difícil... Respostas, só com o tempo, com as raves e até com o 434!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tem bala aí?

Esta pergunta, aparentemente simples, tem muito a ver comigo. Aos que ainda não conhecem sua origem, uma breve introdução.

Maio de 2008, último período de faculdade (jornalismo, PUC-Rio). Monografia de vento em popa. Um documentário sobre festas rave e música eletrônica. Dificuldades na produção depois da morte de um garoto em uma festa que eu havia ido em outubro de 2007. Não conseguia autorização para filmar em nenhuma festa e, para completar, não fazia a menor ideia de que nome daria ao filme. Nesse contexto, fui com primos e amigos a uma festa indoor de trance só para curtir, já que não seria possível gravar lá. No meio da noite, enquanto esperávamos uma das meninas do grupo voltar do banheiro, uma garota vem na minha direção e pergunta "tem bala aí?". Estava definido o nome do meu curta!

Mas o que levou aquela garota e, mais tarde, no mesmo dia, um cara a perguntarem se eu tinha ecstasy para vender? A resposta não é certa, é apenas uma suposição. Ao me olharem na festa, andando e me movimentando de uma forma, digamos, diferente, eles acharam que eu estava doidão quando, na verdade, a causa disso é minha deficiência, uma paralisia cerebral discinética. A surpresa veio da pergunta, porque, em quase 4 anos de festas rave, já estou cansado de ouvir comentários do tipo "tá muito doido hein", "o que que você tomou?", etc. Termino o post inicial com um trecho de off do "tem bala aí?".

"No início, tentei argumentar, explicar o que realmente eu tinha. Mas, como os doidões eram eles e não eu, muitos não levavam a sério ou sequer entendiam o que eu dizia. A partir daí, passei a brincar com isso. Agora, entro na pilha, falo que estou muito doido, que tomei tudo. E rio, rio muito. Porque quem ri por último, ri melhor."