quarta-feira, 22 de abril de 2015

Bolos e nãos

O de hoje foi mais dolorido do que vários. Foi um combo. Mistura de cada um. Mexeu com meu maior e mais profundo medo. Quando o homem forte que lida superbem com a paralisia cerebral fica frágil e deseja, ainda que por pouco tempo, não ter nada, ser 'normal'. 

O primeiro não foi há 19 anos, eu acho. Era a menina mais bonita da turma. Aos 12 anos ninguém sabe muito bem o que fazer pra dar o primeiro beijo. Tinha aniversário de uma amiga do colégio e mandei carta escrita na máquina. Fui conversar com ela e a resposta não foi a esperada e me travou por muito tempo. 

Foram inúmeros amores platônicos ao longo dos anos. Não conseguia demonstrar que queria e na hora H, quando me soltava, era sempre o famoso 'Eu gosto tanto de você, mas como amigo, tá?'. Ah, se fosse hoje. Certeza que teria respostas melhores para isso...

E assim passou o tempo. Até que uma menina me adicionou na rede social. Disse que me achava lindo e que me procurava desde a semana santa do ano anterior quando tinha me visto em Maromba. Com ela dei meu primeiro beijo, no cinema.

À conta-gotas continuou, por mais outros anos. Me interessava, aproximava, gostava e não conseguia dar o passo adiante. Sempre o quase, a dúvida 'será que vai querer ficar comigo por ter a deficiência'. Ouvi 'você é o cara certo na hora errada', 'Vai encontrar alguém melhor', etc. Resultado: serei padrinho de duas grandes amigas que vão casar esse ano.

Comecei a melhorar quando falei sobre isso, ainda que de forma tímida, em Como Seria?. Eu talvez tivesse mais desenvoltura e não travasse na hora de chegar nas mulheres se não tivesse a paralisia cerebral que afeta minha coordenação motora. Sim, ainda fico receoso, na dúvida e sei que isso vai me acompanhar sempre. Será que vai atrapalhar? Vai querer mesmo assim? 

Como sempre, as respostas variam. Mas já consigo perceber melhor quando ela realmente quer. E apesar do revés de hoje, tem dado certo.